sábado, 27 de fevereiro de 2010

olha essa pérola feita por professor e alunos.

"Trabalho realizado na aula de artes com alunos de 5ª série da E.E. Dep. Manoel Costa BH-MG sobre a poesia O Boi Zebu e as Formiga pelos professores André Macedo e Juliana."

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Xilogravura, depois falemos um pouco mais sobre essa arte.

 

XILOGRAVURA

J. Miguel

José Miguel da Silva, conhecido como J. Miguel, nasceu em Bezerros, Estado de Pernambuco, no dia 13 de Janeiro de 1961. Filho de J. Borges, começou a trabalhar aos 10 anos de idade na gráfica do pai, onde se produziam grandes quantidades de folhetos de cordel. Inicialmente, trabalhou em composição tipográfica, atividade que o manteve próximo aos trabalhos do pai e à qual foi progressivamente incorporado, em face do grande talento e da capacidade técnica que logo desenvolveu.
Iniciando com pequenas gravuras, Miguel despertou desde muito cedo o interesse de marchands e colecionadores. Embora tenha vendido muitas de suas matrizes, ele formou um acervo que hoje conta com mais de 100 obras, algumas das quais expostas em Garanhuns, em Recife e no Rio de Janeiro. Hoje, suas gravuras podem ser encontradas na Casa de Cultura Serra Negra em Bezerros, oficina que divide com seu pai J. Borges, na feira de artesanato de Caruaru e em Recife.

http://www.bezerros-pe.hpg.ig.com.br/artesanato_xilogravura_jmiguel.htm

Dicas: Acervo digital de Cordel

Neste portal da Fundação Casa Rui Barbosa, o pesquisador pode encontrar biografia de cordelistas, cordéis do início do século e muitas referências bibliográficas.
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/

Como sentimos a Cultura....


Acreditava em Deus e em outras coisas invisíveis
Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
Belchior (Pequeno Perfil de um Cidadão Comum)

Foi de um olhar cabisbaixo produzido num rosto impotente de um jovem pobre, destes que a origem mal preenche dois ou três galhos de uma árvore genealógica, que me veio à percepção da força descomunal e opressiva que a história produz sobre os ombros de um homem comum. Como, ao longo de séculos de história no Brasil, este homem ordinário, jovem, velho, sertanejo, urbano, trabalhador, foi progressivamente docilizando-se e baixando a face diante do Olhar, da Voz e da Força autoritária das elites brasileiras. Como, ora com discursos, indumentárias, distinção intelectual, saberes científicos e, em muitos casos, com a força institucional, tentou vergar o Olhar, a Voz e o Corpo do brasileiro ordinário.
Ora, essa força, que de mágica não tem nada, foi produzida por uma sistemática desvalorização da vida material e simbólica deste ser. Impossibilitado de reconhecer-se em tudo que o cerca, seu olhar desloca-se para baixo ou para o infinito, sua voz silencia-se ou sussurra, seu corpo curva-se ou deforma-se a cada novo obstáculo. Sem perceber Ele caminha para morte sem ter visto a vida.
Numa primeira análise, esse projeto foi tão eficiente que qualquer ação rebelde deste “corpo” foi criminalizada. Quando não, a indústria cultural pasteuriza e depura a vitalidade de sua manifestação, restando-nos um simulacro de experiência humana, que por ele foi acumulada e, potencialmente, refinada há séculos. Diante de tal situação, parece-nos quase impotente narrar a vida de um ser que agora se projeta como um espantalho a assustar corvos tolos. Quem o conhece bem, dele não teme e até ri.
Cada vez mais, costumes, crenças, danças, poesias, artes e ofícios, expressões de vida viraram algo risível (ridículo), em programas matutinos e noturnos que se denominam “populares”. O olhar para si, sua história o envergonha, atormenta, amesquinha, fragiliza, desonra, acanha, retrai, silencia, ofusca e, por fim, imobiliza. O que se produziu de melhor é tão deslocado que fica irreconhecível e impraticável pelos seus criadores, seja pelo novo espaço ofertado, pela descontextualização cultural ou mesmo pela espetacularização. O vivido é traduzido num dicionário globalizante que resulta numa sentença quase inteligível e desconexa.
Nada faz muito sentido – cientista virando beato para validar a experiência religiosa; a miséria virando belo pelo olhar estetizante de uma percepção que só suporta ver a realidade enfeitada de técnicas e cromagens atraentes; a “experiência popular” transformada em autóctone, não se conectando ao universo humano. Há uma produção de deslocamentos anacrônicos em quase tudo apresentado. Há um ser em vida hoje, que padece de não pertencer ao tempo social vivido, sendo aprisionado em túnel do tempo, sem passagem para o futuro e nem para o passado.
Todo adereço do novo mais parece o macaquear do moderno do que o direito de vivê-lo. Há um esvaziamento desde homem a ponto de quererem desumanizá-lo, suas dores são suportáveis, seus amores e desamores menos intensos, seu sexo menos erótico, sua sensibilidade é tão rústica que se torna impenetrável, sua força, quando usada, é considerada violência irracional. Esse homem comum, que ao olhar do dominador cada vez mais é desumanizado, não tem direito à História, nem de vivê-la e muito menos de contá-la.
A experiência humana que queremos pensar não é essa. Também não queremos cangaceiros virando heróis; padre sendo reabilitado; sertanejo de verso pobre sendo poeta maior; vencido tendo sua história contada só por uma inversão epistemológica. Não queremos a cultura do exótico ou do inusitado, não procuramos a novidade elucidativa. Não produziremos, pelo menos, conscientemente, transposições conceituais por simples arranjo teórico. Não temos a ilusão de uma linhagem de sujeito histórico revolucionário, mas acreditamos que aos mortos, aos injustiçados, oprimidos e almas sofridas do passado, que não têm a eternidade para deitar-se, devem ter, na historiografia, o “tribunal de justiça (Gehör) que a humanidade atual, ela própria passageira, pode oferecer aos protestos (Anklagen) que vêm do passado”[1]. Entendemos que nossa missão é produzir uma narrativa do vivido, em que “cada vítima do passado, cada tentativa de emancipação, por mais humilde e ‘pequena’ que seja, será salva do esquecimento e ‘citada na ordem do dia’, ou seja, reconhecida, honrada e rememorada”[2]. É com esse espírito que nos encaminhamos em direção aos mortos, com a certeza de que sua experiência nos fez levantar o olhar e encarar, na mesma linha horizontal, a força opressiva que ora nos tenta curvar. 
(TRECHO DA INTRODUÇÃO DA MINHA TESE)


[1] HORKHEIMER apud LÖWY, Michael. Walter Benjamim: aviso de incêndio. São Paulo, Editorial Boitempo, 2005, pp. 50-51.
[2] LÖWY, Michael. Walter Benjamim: aviso de incêndio. São Paulo, Editorial Boitempo, 2005
pp. 55.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Explicando o Blog

Gilberto Freyre tem uma frase: "O que nos faz pensar nas ostras que dão pérolas"... Nosso intuído será cotiadiana pensar nestas ostras que dão pérolas. Vou usar esse espaço para conversar com vcs sobre as "ostras" que mesmo diante de suas limitações "estéticas", são capazes de produzir tão bela pedra. Vamos pensar juntos a cultura popular em suas múltiplas dimensôes: estética, religiosa, social, política e cultural. Falaremos da industria da cultura de massa e seus impactos na vida social.

Segue a primeira Pérola:


CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ – Patativa do Assaré

Poeta, cantô da rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.

Se aí você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisa
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá, que eu canto cá.

Você teve inducação,
Aprendeu munta ciença,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez uma boa paioça,
Nunca trabaiou na roça,
Não pode conhece bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem.

Pra gente cantá o sertão,
Precisa nele mora,
Te armoço de fejão
E a janta de mucunzá,
Vive pobre, sem dinhêro,
Trabaiando o dia intero,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato.

Você é munto ditoso,
Sabe lê, sabe escreve,
Pois vá cantando o seu gozo,
Que eu canto meu padece.
Inquanto a felicidade
Você canta na cidade,
Cá no sertão eu infrento
A fome, a dô e a misera.
Pra sê poeta divera,
Precisa tê sofrimento.

Sua rima, inda que seja
Bordada de prata e de oro,
Para a gente sertaneja
É perdido este tesôro.
Com o seu verso bem feito,
Não canta o sertão dereito
Porque você não conhece
Nossa vida aperreada.
E a dô só é bem cantada,
Cantada por quem padece.

Só canta o sertão dereito,
Com tudo quanto ele tem,
Quem sempre correu estreito,
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão
Suportando a privação
Com paciença de Jó,
Puxando o cabo da inxada,
Na quebrada e na chapada,
Moiadinho de suó.

Amigo, não tenha quêxa,
Veja que eu tenho razão
Em lhe dize que não mexa
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De quá manêra se pega
Num ferro pra trabaiá,
Por favô, não mexa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá que eu canto cá.

Repare que a minha vida
É deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.

Mas porém, eu não invejo
O grande tesôro seu,
Os livro do seu colejo,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulô

Seu verso é uma mistura
É um ta sarapaté,
Que quem tem pôca leitura,
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E ôtros negoço impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.

Canto as fulô e os abróio
Com toda coisas daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se buli.
Se as vez andando no vale
Atrás de cura meus males
Quero repará pra serra,
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um diluve de rima
Caindo inriba da terra.

Mas tudo é rima rastêra
De fruita de jatobá,
De fôia de gamelêra
E fulô de trapiá,
De canto de passarinho
E da poêra do caminho,
Quando a ventania vem,
Pois você já tá ciente:
Nossa vida é deferente
E nosso verso também.

Repare que deferença
Iziste na vida nossa:
Inquanto eu tô na sentença,
Trabaiando em minha roça
Você lá no seu descanso,
Fuma o seu cigarro manso,
Bem perfumado e sadio;
Já eu, aqui tive a sorte
De fumá cigarro forte
Feito de paia de mio.

Você, vaidoso e facêro,
Toda vez que qué fumá,
Tira do bôrso um isquêro
Do mais bonito meta.
Eu que não posso com isso,
Puxo por meu artifiço
Arranjado por aqui,
Feito de chifre de gado,
Cheio de argodão queimado,
Boa pedra e bom fuzí.

Sua vida é divertida
E a minha é grande pena.
Só numa parte de vida
Nóis dois samo bem iguá
É no dereito sagrado,
Por Jesus abençoado
Pra consolá nosso pranto,
Conheço e não me confundo
Da coisa mio do mundo
Nóis goza do mesmo tanto.

Eu não posso lhe inveja
Nem você invejá eu
O que Deus lhe deu por lá,
Aqui Deus também me deu.
Pois minha boa muié,
Me estima com munta fé,
Me abraça, beja e qué bem
E ninguém pode negá
Que das coisa naturá
Tem ela o que a sua tem.

Aqui findo esta verdade.
Toda cheia de razão:
Fique na sua cidade
Que eu fico no meu sertão.
Já lhe mostrei um ispeio,
Já lhe dei grande conseio
Que você deve toma.
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá que eu canto cá.